Uma sorte construída toda de equívocos
Apodera-se de um corpo-suposto meu corpo-
Estranho e diverso de mim.
O que o espelho aprisiona
Não é minha face
Mas uma vingança
Engenhosamente arquitetada
Pelos olhos cortantes da prata.
E como mágica, esta imagem
Vira capa e me envolve num abraço
Dolorido e vigoroso.
Se sou Afrodite, cabe a mim Hefaístos
Maquinal e coxo, pele de couro áspero
Com seus raios alquebrados
E olhos vítreos.
A couraça densa não se ergue
Entre demônios e trevas - é pele.
Sucessivas cutículas unidas
A harmonia agressiva da monstruosidade
tensa, porém ativa, pulsar de tez enrijecida
Risonho espetáculo de horrores
Diante dos olhos dos outros.
Nestes olhos há o susto
O deslumbre maligno
De íris bondosas
Que com sua curiosidade pérfida
Atravessam até a mais espessa pele
Deixando chagas
E olhos de vidro que não mais reluzem, estão baços-
são lágrima.