sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Eu escrevo por que...



No grupo da Pólen foi feita essa pergunta, e li o post no blog da Sofia que me instigou bastante. Apesar de este ser um blog voltado para publicação de poemas e prosas curtas, tenho um Medium com textos mais opinativos.

O que eu ando escrevendo?
Muita prosa ultimamente, embora meu modo mais pronunciado seja poesia. Eles têm tempos diferentes, e o lirismo dos poemas me ajuda bastante a lidar com questões complicadas da minha vida. A prosa, por outro lado, auxilia a organizar meus pensamentos e a refletir; por isso, mantenho diários desde os 11 anos. Também tenho escrito resenhas de livros para o Coletivo Leituras, algo que como leitora, adoro fazer. Sou um pouco freak das listas temáticas, isso conta também como escrita, não?

Como minha escrita se diferencia de outras do gênero?
Nossa, nunca parei pra pensar sobre um diferencial, mas acho que como escrevo meu cotidiano, e cada vivência é única e, muitas vezes, bem inusitada, isso traz originalidade.

Por que eu escrevo?
Houve uma época, aos 16 anos, que minhas atividades extracurriculares de escola me tiraram o tempo de escrever. Eu pirei. Mesmo. Sofri bastante e então descobri que a escrita faz parte de mim e que dentro da minha cabeça eu estou sempre narrando e trovando, é inevitável. Seja para confessar ou para expor opinião, preciso do papel. A tal crise dos meus 16 só se resolveu quando me envolvi num projeto para escrever um roteiro de teatro em verso.

Como eu supero bloqueios criativos?
Geralmente escrevendo outros textos sobre temáticas nada a ver. Mas tenho um trunfo secreto, que é escutar outras pessoas sobre o mote da escrita: sempre me ajuda a retomar o fluxo. Se escrevo um poema sobre o mar e travo, pergunto sobre praia pra algum amigo; as respostas geram imagens e aí a coisa anda.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Suspiro

Amo tanto que as palavras
faltam.
Meu corpo cansado apenas
sussurra uma cantiga
inaudível para o meu amado.

Pois uma semente alada
pousou em meu peito
e nele fez casa.

E agora desabrocha embalada
no enleio dos murmúrios
de minhas veias.

Quando se molharem
as primeiras pétalas
no rocio amargo
das coisas doídas

da minha morte chegará o
dia e meu cadáver será
consolado por minha alma
liberta desta procura

infinita. 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Certame

Como em tudo que faço,
Tomei o caminho mais árduo
Cheio de reentrâncias e curvas
Dispensáveis.
Pensei estar a salvo,
Equilibrada e de rumo tomado
Até você ser daquela mulher
Branca e correta, além de
Sã e centrada.

Da mulher correta-não bondosa, pia ou ética
Por descrever correção em sentido estrito:
Esta que não perderá tempo
Precioso
Com nada além de acordes fáceis, finais felizes
E receitinhas que agradem o marido.

A mulher é rocha rara
Montanha de mármore imaculado
Enquanto sou água e adentro os meandros do
Impossível.
Voluptuosa e sem decoro,
A escolha desprezível.

Tenho bebidas, cigarros e sorrisos
Em demasia,
Além de amigos mal comportados
Que gargalham e saltam às vistas
Além de não organizarem
chás-da-tarde vienenses, os pobres coitados
que não entendem de artes
ou perspectiva.

Meus vestidos coloridos, cabelos desalinhados
Não uso maquiagem nem que paguem
Com seu amor por isto.
Seria uma ótima mulher sem vaidade,
Mas se assim servisse para você,
Me pintaria como Candy Darling.

O futuro do pretérito pinta em tons muito tristes,
Não seria ou serei nada;
Agora a mulher correta e alva desfila:
Véu, grinalda, arroz nos cabelos e

Aliança no dedo.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Ataque

Em mim mora um bicho que
Mata todas as histórias bonitas e
As corta com suas garras
depois as varre
com seus urros.

Toda criação vacila
Ao sentir seus passos
Saindo do esconderijo.

Não sei se felino, lobo,
Serpente ou ave de rapina-
O bicho vem sorrateiro, de repente
Sem que eu possa senti-lo.

Fica enjaulado
Entre minhas costelas, de tocaia
Mas se atiçado, avança
E crava os dentes
no que estiver a vista.

Então parece que descarna meu coração
Para que ele bata fora frio feio
Carne exposta nua de desgosto de mágoa.

O bicho se solta nestes dias
Chuvosos e aniquila tudo
Com seus olhos furiosos-depois o dilúvio
Leva os restos e eu fico sem abrigo
De peito aberto.

Parece-me que cicatrizo apenas
Para esperar que o bicho retorne.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Estático


Nada mais se agita
Por você ir embora
Deixando alguns móveis,
Os restos desta juventude morna e
a desajustada música das palavras
não ditas em meus ouvidos.

As coisas se desatam na aragem
Saudosa de março.
A ausência não vem do corpo,
Não emana dos sentidos
Evoca o que se amava,
Irrecuperável.

Grave é que as memórias
Desvanecem com os dias enfastiados
E mesmo que tudo seja superado,
O cômodo vazio dentro de mim
Permanece intacto.

O meu desejo é que breve
outro que seja, não acredito,
Quebre esta pedra,
sangre esta ferida de flecha funda
Me lance do abismo, guie aos infernos
-morta a idade das alegorias,
não há Éden possível-
Mesmo que para outra morte tal qual esta.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Claridade



A árvore seca
Embaixo da ponte
Ninguém se assusta:
Afinal é outubro
E tudo escorre
Promessas de morte.

Nuvens escuras
distribuem
Baforadas exaustas
nas tardes que 
se suicidam em 
fastio amarelado.

Um rio deitado
ignora
o fogo da cidade
E corre para o mar
O mais rápido que pode,
muito lento:
Se eu fosse onda
Além das metáforas,
evaporaria.

domingo, 14 de outubro de 2012

Sinonímia


Não sou dada amores com vítimas
Nem destinada ao cárcere
Destes dias repetidos com ampla carta
De desejos médios – o apartamento
três quartos mobiliado, o emprego estável,
A casa de família,
Os parentes adestrados em almoços
De domingo.
[As mangueiras ao sol,
Se quisermos um clichê mais
Bonito]

Só que por dentro
O amor se exaure
Pelo ralo do tédio
Consumido no limbo
descrito em compromisso
Na fuga eterna dos prazeres
secretos.

Moral da história de quem tudo quer
tão rápido:
Noves fora, nada.
Somos todos culpados, se existirmos
Deixe isto.
E todos alimentamos fantasmas
com lágrimas de certo modo.

Apenas nego a sinonímia
E desprezo aquela mágoa que jaz tão
Arranhada ecoando no bar
Com os amigos, em toda fresta da casa,
Nos portarretratos,
em seus inúmeros lapsos – e que só se esconde
No quarto escuro, comigo, de olhos fechados:
Para boa entendedora, meia verdade basta.