quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Quão magnífico
O deleite
De ver-me
Escarnecida!

Tolhida por suas mãos,
Desvalida do ouro que me havia
Originado.

Não importando se apraz
ou enfastia,
Inócuo
Você se mostra.

Cínico, de risos fátuos
Provoca e debocha
Com cortesia
Sempre sinuosa.

Aos lampejos de silêncios
E censuras
Imola minha carne
Quase vencida.

Sega minhas asas que
De forma tão parva
Alçaram um vôo
De kamikase.

Espalha-as para que
Se encerrem em cinzas
No fogo dos ventos secos.

Apaga todos os rastros
Da minha matéria.
Mas como fênix,
Reajo aos
Seus impropérios.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Todas as afirmativas que ela impunha agora não mais repeliam, e sim enfeitiçavam. Deslumbre tão novo e variado que para ela era susto. A surpresa da contemplação que se faz sem máscaras. Positivamente, ainda com receio. Um receio covarde que era resquício de outras épocas-de quando ela estava à margem das pessoas; não por desprezo genuíno, mas por um desleixo carregado de um ressentimento oblíquo.
Já não precisava ser nada além. Era, apenas. E pela primeira vez este ser descortinava maravilhas nunca dantes vistas.
Embora ignorasse o que acontecia, tinha múltiplos proveitos. A polidez dos outros não era mais afetada. Acontecia naturalmente, por merecimento. Delicadezas viam-se por todas as partes, de sorrisos a buquês de flores. Nada muito veemente. Nem mais assustadora a lida com estes fatos. Coisas fluentes e corriqueiras.
Todavia não notava que isso vinha mesmo dela. Quando optou por se libertar e sorrir, com passos trôpegos e poemas que só ela entendia, fez isto simplesmente por estar cansada, sem nenhuma meta. Atirou-se no que julgava ser abismo-e encontrou-se num cerco de almofadas.
Ela entendera que um dia a gente estafa de não ser; e este cansaço é um empurrão violento. Um impulso que está além das fronteiras confortáveis de nós mesmos.
Tendo vontade de fazer, fazia; não havia mais a cobrança dos ecos que insistiam no plausível. Não havia mais o débito do correto. Desconhecia-se a determinação do que era devido-alguém que estivera em frangalhos como ela podia, sim, mover forças impossíveis para uma reconstrução homérica.
Gratuitamente, então, recolocava-se no lugar que era seu somente por ter sabido (se) encontrar.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Tudo muito confuso.
Eu não julgava, e sim estimava os atos.
O que é ainda mais perigoso.
Não podia prever nada por não conseguia ver coisa alguma.
Precisava falar. Mas a covardia era trava.
Sou mesmo assim: uma covarde sem medo.
Enfrentamentos para mim são fáceis. Mas confissões e pedidos me parecem tão tolos que se transformam em amarras imaginárias.
Tinha raiva, era impenetrável. Mas isto não transparecia.
Um riso cínico e doído riscava meus lábios. Minha pele era mármore.
Eu queria entender o silêncio, as lacunas; o que não existia.
Desejava enigmas onde não havia.
Tentara indagar, capturar algo com hipóteses e longas voltas.
Mas ele desatava o laço, se desvirtuava em outros olhares, outras viagens: nem ali estava e se estivesse, não dava notícia.
Nada nos círculos de vácuo acompanhava meus ímpetos: eu já não suportava tantos desvios.
Ergui-me de súbito e saí, com estrondo.
Mas tinha o corpo teso e olhos vidrados: choque de irrealidade
.