sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Tudo muito confuso.
Eu não julgava, e sim estimava os atos.
O que é ainda mais perigoso.
Não podia prever nada por não conseguia ver coisa alguma.
Precisava falar. Mas a covardia era trava.
Sou mesmo assim: uma covarde sem medo.
Enfrentamentos para mim são fáceis. Mas confissões e pedidos me parecem tão tolos que se transformam em amarras imaginárias.
Tinha raiva, era impenetrável. Mas isto não transparecia.
Um riso cínico e doído riscava meus lábios. Minha pele era mármore.
Eu queria entender o silêncio, as lacunas; o que não existia.
Desejava enigmas onde não havia.
Tentara indagar, capturar algo com hipóteses e longas voltas.
Mas ele desatava o laço, se desvirtuava em outros olhares, outras viagens: nem ali estava e se estivesse, não dava notícia.
Nada nos círculos de vácuo acompanhava meus ímpetos: eu já não suportava tantos desvios.
Ergui-me de súbito e saí, com estrondo.
Mas tinha o corpo teso e olhos vidrados: choque de irrealidade
.

4 comentários:

Daniel Feitosa disse...

'Eu quero entender o silêncio, as lacunas; o que não existe'; para parafrasear o presente, de sempre.


eu gosto da intensidade disso aqui.

Junker disse...

"Mas ele desatava o laço, se desvirtuava em outros olhares, outras viagens: nem ali estava e se estivesse, não dava notícia."


Bonito e firme.

Seu blog tem letras muito pequenas... me deixa tonto como se eu tivesse bebido.

Bebido o blog.

. disse...

é a intenção, junker.

Anônimo disse...

"Tinha raiva, era impenetrável. Mas isso não transparecia."

Sei como.