segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Claridade



A árvore seca
Embaixo da ponte
Ninguém se assusta:
Afinal é outubro
E tudo escorre
Promessas de morte.

Nuvens escuras
distribuem
Baforadas exaustas
nas tardes que 
se suicidam em 
fastio amarelado.

Um rio deitado
ignora
o fogo da cidade
E corre para o mar
O mais rápido que pode,
muito lento:
Se eu fosse onda
Além das metáforas,
evaporaria.

domingo, 14 de outubro de 2012

Sinonímia


Não sou dada amores com vítimas
Nem destinada ao cárcere
Destes dias repetidos com ampla carta
De desejos médios – o apartamento
três quartos mobiliado, o emprego estável,
A casa de família,
Os parentes adestrados em almoços
De domingo.
[As mangueiras ao sol,
Se quisermos um clichê mais
Bonito]

Só que por dentro
O amor se exaure
Pelo ralo do tédio
Consumido no limbo
descrito em compromisso
Na fuga eterna dos prazeres
secretos.

Moral da história de quem tudo quer
tão rápido:
Noves fora, nada.
Somos todos culpados, se existirmos
Deixe isto.
E todos alimentamos fantasmas
com lágrimas de certo modo.

Apenas nego a sinonímia
E desprezo aquela mágoa que jaz tão
Arranhada ecoando no bar
Com os amigos, em toda fresta da casa,
Nos portarretratos,
em seus inúmeros lapsos – e que só se esconde
No quarto escuro, comigo, de olhos fechados:
Para boa entendedora, meia verdade basta.