sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Um barulho seco vem da lâmpada. A fúria das pálpebras cerradas se desfaz aos poucos.
Uma sombra grande e difusa confunde meus olhos.
Vejo então a mariposa: branca, simples, absorta em seu vôo, ofuscando a luz amarela e tediosa do quarto.
Os ciclos que ela executa, os pequenos estalos, enfadam-me logo.
Saio por um instante. Volto com uma vassoura.
Não quero matá-la. Desejo conduzi-la até a janela, para a brisa da noite cheia de estrelas que logo serão mariposas como ela.
Mas se existe obstinação real no mundo, o bicho a personifica.
Quando me aproximo dela com a vassoura, a mariposa alarga os círculos, voa rasante e agressiva sobre a minha cabeça.
Por que ela insiste na loucura?
Qual a razão dessa clausura se à frente dela há uma janela enorme, com a noite à espera para ser desfrutada?
Agonizando pelas paredes e não querendo ser ajudada!
Fico impaciente: agora, invisto contra ela.
Mas o bicho é rápido e sorrateiro; e some.
Recomeço o livro que estava lendo.
O sono vem. E a surpresa.
Escondida entre os lençóis, lá está ela, mais branca que nunca, maior porque mais próxima e mais assustadora.
Retomo a vassoura.
De novo, em seu balé, a mariposa branca escurece metade do quarto a cada movimento.
Para quê tanto devaneio?
Fico cansada de agir e indagar.
Paro agitar a vassoura no ar. Suspendo-a.
Ela pousa na palha com suavidade.
Tento soltá-la na janela; a mariposa não se move.
Na ponta dos pés, mudo de rota e levo-a para a despensa, quarto escuro e abafado.
Maravilhosa imitação de noite.

Um comentário:

Junker disse...

Otimo!!!!!!! Parece maçã!!!!!

Pelo estilo e o nome do blog deve gostar de silvia plath =)

E vi numa comunidade q tu gosta de the dresden dolls e o mais impressionante The tiger lillies =D

Gostei bastante, vou favoritar.