terça-feira, 1 de janeiro de 2008

- E eu que tenho que parar pra pensar no que os outros estão sentindo? Eu?
Você não acha que eu estou cansada demais pra imaginar o que ele deve estar pensando, o que ela deve estar pensando, o que os dois juntos devem estar pensando? Eu jamais serei motivo de aflição para ele, algo que ele deseje ocultar dela. É óbvio demais: eu sou uma piada para os dois, eu tenho quase certeza. Uma certeza remota e inquietante, aquela coceirinha da intuição no juízo da gente. A toda hora eu sou insultada em meu pensamento pelas gargalhadas deles, e eu respiro fundo e sigo. A cada passo, a cada frase minha, eu ouço os ecos das risadas. E não se trata do ultraje ao que eu penso e ao que eu sinto; isso é suportável. Mas a humilhação, ah, essa sim. Cara, estavam umas cinco pessoas com a gente e ele começou a despejar tudo aquilo, a ser exagerado e verborrágico, a dar todos os detalhes a vida deles pra mim. Ele se dirigia exclusivamente a mim. Eu estava ilhada e ele sabia disso. Ninguém me conhecia. Ninguém lá sabia dessa tensão ridícula. Não era algo que estava suspenso no ar. Sendo assim, se eu me descontrolasse e saísse correndo ou agredisse ou gritasse ou falasse a verdade não haveria pessoas para entender, reconsiderar ou sequer apoiar. E o filho da puta tinha calculado tudo. Meu Deus, ela sabe que ele faz esse tipo de coisa porque quer desviar-se de mim e não consegue. E ela tolera.
- Mas é claro que ela tolera! Ela sabe que ele a ama. Você é um peão, uma ninharia. E também a vítima fodida.
- Fodida, não.
- Não?
- Não.
As duas riem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esteja bem ! Gostei de seu texto literário , algo linguistigamente estranbólico . Parabéns !

Acesse o meu blog

www.tvautentic.blogspot.com
www.autenticnews.blogspot.com

Atc. Érico Teixeira & Equipe