sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Não houve anunciação: visões, gritos desesperados, pétalas de rosas, chuva e palácios não existiram.
Em nada aquilo fora como um sonho. Mais um ultraje que qualquer dessas coisas bonitas que invariável e equivocadamente chama-se amor.
Silêncio. Silêncio e medo. Mas não aquele medo próprio do amor de suores frios e tremores pacatos. O pavor gélido nas entranhas, este sim, insistia em ser presente.
A dúvida perscrutava e pairava sobre eles. Os atormentava.
Ele tinha pressa. Uma pressa compulsiva que a incomodava justamente por não ser ânsia. Mas por ser mentira. Tudo nele era lisonja, entrega e superfície. Logo, vinha a desconfiança.
Ela não tinha certeza de nada. Isso o punha louco. Ademais, a frieza dela. Sempre daquele jeito abnegado e impassível.
Ali, não se sabia de leveza. Tampouco intensidade.
Havia, sim, doçura e beleza. Contudo, com uma densidade insondável.
O segredo por si só, já muito pesava e doía. Então, havia muito riso quando se viam. Ambos tinham muito a esconder, um do outro e das outras pessoas. Ninguém os via e trabalhavam para isso. Amigos do sigilo não porque ele trouxesse mais calma, mas apenas por causa do alívio de explicações e normas. E a tudo eles contrariavam, com isto. Em verdade, era mesmo tão vergonhoso este ato que se fazia necessário vivenciar uma transgressão para torná-lo justificável.
Mesmo que de uma das partes não houvesse fé no que se fazia. “Em nome do quê realmente aquilo existia?”-um dos dois sempre indagava. Devaneio fátuo, este. Mas não sabiam ainda que parecesse tolo, era preciso.
Por trás do vulto escuro que eram mutuamente um para o outro, havia o lume.
E somente eles não viam, cegos de tanto brilho.

5 comentários:

Junker disse...

Acho q isso esta bastante proximo do meu diagnostico se eu frequentasse psicologos/psiquiatras/hipnotizadores.

Mas de uma forma nao tao dolorosa =)

Daniel Feitosa disse...

isso foi tão real que vieram vários casos à mente. inclusive próprios.

Anônimo disse...

Sou só eu ou realmente estão falando de mim em todo lugar?

Muito bom, Lara.

Anônimo disse...

Aparências cegantes são as piores armadilhas para os olhos, e aqueles que não sabem diferenciar branco de amarelo geralmente se ludibriam com as palavras bonitas.

Marina Moura disse...

que amor é brilho que cega
e desamor é o sol de todo dia...